MARTE
Adoro livros. Adoro poder sentir os livros, o cheiro do
papel, sua textura... Mas devo admitir que desde que ganhei o Tablet fiquei
“viciado” em baixar livros para me distrair. Alguns são dignos apenas de serem
deletados, mas outros são uma grata surpresa que merecem ser recomendados.
Aos novos leitores,
não se deixem influenciar pela mídia ou pelo modismo. Leiam aquilo que lhes
“toquem”, não aquilo que tentam lhe empurrar goela abaixo.
As grandes obras literárias
dos finais dos anos 50, 60 e 70 influenciaram toda nossa cultura e uma grande
parte do que lemos hoje.
TITULO: Estrela oculta
AUTOR: Robert A. Heinlein
EDITORA: LIVRARIA FRANCISCO ALVES EDITORA S.A.
PAG: 113
Robert
A. Heinlein é um dos poucos autores de ficção científica que são lidos indistintamente
pelos aficionados do gênero e pelo grande público. Em seu romance Estranho numa Terra Estranha tornou-se
o evangelho dos Hippies que, na década de 60, criaram o movimento "Flower
Power" (o Poder da Flor)
Heinlein se tornou um dos ídolos da juventude
hippie que chegou a fazer dele o seu guru.
Nesta
obra um ator meio canastrão e desempregado aceita substituir temporariamente um
político que foi seqüestrado por seus inimigos. Não é um político qualquer, e
sim o homem "mais amado e mais odiado em todo o Sistema Solar". E o
seqüestro tem como finalidade impedir que ele seja adotado oficialmente pelos
marcianos, o que poderá levar a uma guerra interplanetária. Se os marcianos
descobrirem a trapaça, a paz estará ameaçada da mesma forma. O que, de início,
parece a Lorenzo Smythe um simples trabalho de caracterização (no qual ele fará
valer seu gênio teatral, no qual só ele próprio acredita), transforma-se de
repente na mais perigosa jogada política. Lorenzo descobre, aterrorizado, que
não pode mais recuar, porque o homem que ele imita não está em condições de
reaparecer em público. Os
dois são agora uma verdadeira "estrela dupla", que na verdade é o
título original da obra, uma delas oculta.
Escrito em 1956, Estrela Oculta, deu a Robert
A. Heinlein o seu primeiro Troféu Hugo, tornou-se profético e cada vez mais
atual com o passar dos anos. O terrorismo internacional começou a visar e matar
figuras proeminentes do cenário político, o que, como diz a certa altura
Lorenzo, obriga a usar um bocado de atores...
“(...)
Pior que
tudo, um homem não é uma complexidade única: é uma complexidade diferente para
cada pessoa que o conhece - o que significa que, para ter sucesso, a encarnação
de um papel deve mudar a cada "audiência" - para cada conhecido do
homem que está sendo representado. Isto não é apenas difícil: estatisticamente
é impossível. Essas pequeninas coisas podem derrubar a pessoa.
Que experiências compartilhadas o
personificado teve com um conhecido chamado John Jones? Com uma centena, com
mil John Joneses? De que modo podia o personificador saber de tudo isso?
Representar per si, como toda arte, é um processo de abstrair, de conservar
apenas o detalhe significativo. Mas num trabalho de personificação, qualquer
detalhe pode ser importante. Com o tempo, uma coisa tão tola como não comer
aipo pode botar tudo a perder.”
Heinlein atribui aos Marcianos uma filosofia de
vida que nos remete aos extremistas de nossos dias:
“(...)
- É mesmo?
Nós não somos marcianos. Eles constituem uma raça muito antiga e elaboraram um
sistema de deveres e compromissos que abrange todas as situações possíveis e
são os maiores formalistas que se pode imaginar. Comparados com eles, os
antigos japoneses, com seus giri e gimu, eram simples anarquistas. Os marcianos
não têm o "certo" e o "errado" - em vez disso têm o que é
apropriado e não, elevado ao quadrado, ao cubo, e carregado de suco de
gravidade. “
Interessante o confronto político existente
entre o “Partido da humanidade” e o “Partido expansionista”
Os primeiros acreditam que o homem tem
soberania sobre todo o universo. Seu pressuposto vem das grandes navegações do
século XVI, onde os conquistadores tinham o direito de explorar as terras por
eles “descobertas”
“ (...) Os
expansionistas acreditavam em uma convivência pacífica, onde poderiam aprender
muito com as outras culturas.
O
expansionismo fora pouco mais do que um movimento do tipo "Destino
Manifesto" ao ser fundado, uma coalizão popular de grupos que tinham uma
única coisa em comum: a crença em que as fronteiras dos céus constituíam a
questão mais importante no futuro imediato da raça humana. Bonforte dera ao
partido fundamentos lógicos e uma ética, o tema de que a liberdade e os
direitos iguais deveriam acompanhar a bandeira imperial. Continuava a bater na tecla
de que a raça humana jamais deveria cometer os erros que a sub-raça branca
perpetrara na África e na Ásia. Mas confundiu-me o fato - e eu não tinha
preparo algum nesses assuntos - de que a história antiga do Partido
Expansionista se parecesse tanto com a atual do Partido da Humanidade. Não
sabia que os partidos políticos amiúde mudam tanto, enquanto crescem, como as
pessoas. Soubera vagamente que o Partido da Humanidade começara como uma ala do
Movimento Expansionista, mas jamais dedicara a isso um segundo pensamento. Na
verdade, a cisão fora inevitável. Uma vez que os políticos que não tinham os
olhos nos céus murcharam por força dos imperativos da História e deixaram de
eleger candidatos, o único partido que estivera no caminho certo
obrigatoriamente teria que dividir-se em duas facções. “
Trata-se de uma obra com idéias políticas bem definidas, e a política é
exatamente a base de seu enredo. Ele defende, até as últimas conseqüências, o
primado da liberdade individual, no quadro da lei, da ordem e do patriotismo.
Boa leitura.