sábado, 13 de outubro de 2012

"Mas progredimos,(...), se queremos chegar às estrelas."



                                                                         MARTE
  

  Adoro livros. Adoro poder sentir os livros, o cheiro do papel, sua textura... Mas devo admitir que desde que ganhei o Tablet fiquei “viciado” em baixar livros para me distrair. Alguns são dignos apenas de serem deletados, mas outros são uma grata surpresa que merecem ser recomendados.
 Aos novos leitores, não se deixem influenciar pela mídia ou pelo modismo. Leiam aquilo que lhes “toquem”, não aquilo que tentam lhe empurrar goela abaixo.
 As grandes obras literárias dos finais dos anos 50, 60 e 70 influenciaram toda nossa cultura e uma grande parte do que lemos hoje.

  
 TITULO: Estrela oculta
 AUTOR: Robert A. Heinlein
 EDITORA: LIVRARIA FRANCISCO ALVES EDITORA S.A.
 PAG: 113

 Robert A. Heinlein é um dos poucos autores de ficção científica que são lidos indistintamente pelos aficionados do gênero e pelo grande público. Em seu romance Estranho numa Terra Estranha tornou-se o evangelho dos Hippies que, na década de 60, criaram o movimento "Flower Power" (o Poder da Flor)
 Heinlein se tornou um dos ídolos da juventude hippie que chegou a fazer dele o seu guru.
 Nesta obra um ator meio canastrão e desempregado aceita substituir temporariamente um político que foi seqüestrado por seus inimigos. Não é um político qualquer, e sim o homem "mais amado e mais odiado em todo o Sistema Solar". E o seqüestro tem como finalidade impedir que ele seja adotado oficialmente pelos marcianos, o que poderá levar a uma guerra interplanetária. Se os marcianos descobrirem a trapaça, a paz estará ameaçada da mesma forma. O que, de início, parece a Lorenzo Smythe um simples trabalho de caracterização (no qual ele fará valer seu gênio teatral, no qual só ele próprio acredita), transforma-se de repente na mais perigosa jogada política. Lorenzo descobre, aterrorizado, que não pode mais recuar, porque o homem que ele imita não está em condições de reaparecer em público. Os dois são agora uma verdadeira "estrela dupla", que na verdade é o título original da obra, uma delas oculta.
 Escrito em 1956, Estrela Oculta, deu a Robert A. Heinlein o seu primeiro Troféu Hugo, tornou-se profético e cada vez mais atual com o passar dos anos. O terrorismo internacional começou a visar e matar figuras proeminentes do cenário político, o que, como diz a certa altura Lorenzo, obriga a usar um bocado de atores...
 “(...)
 Pior que tudo, um homem não é uma complexidade única: é uma complexidade diferente para cada pessoa que o conhece - o que significa que, para ter sucesso, a encarnação de um papel deve mudar a cada "audiência" - para cada conhecido do homem que está sendo representado. Isto não é apenas difícil: estatisticamente é impossível. Essas pequeninas coisas podem derrubar a pessoa.
  Que experiências compartilhadas o personificado teve com um conhecido chamado John Jones? Com uma centena, com mil John Joneses? De que modo podia o personificador saber de tudo isso? Representar per si, como toda arte, é um processo de abstrair, de conservar apenas o detalhe significativo. Mas num trabalho de personificação, qualquer detalhe pode ser importante. Com o tempo, uma coisa tão tola como não comer aipo pode botar tudo a perder.”

 Heinlein atribui aos Marcianos uma filosofia de vida que nos remete aos extremistas de nossos dias:

“(...)
 - É mesmo? Nós não somos marcianos. Eles constituem uma raça muito antiga e elaboraram um sistema de deveres e compromissos que abrange todas as situações possíveis e são os maiores formalistas que se pode imaginar. Comparados com eles, os antigos japoneses, com seus giri e gimu, eram simples anarquistas. Os marcianos não têm o "certo" e o "errado" - em vez disso têm o que é apropriado e não, elevado ao quadrado, ao cubo, e carregado de suco de gravidade. “



 Interessante o confronto político existente entre o “Partido da humanidade” e o “Partido expansionista”
 Os primeiros acreditam que o homem tem soberania sobre todo o universo. Seu pressuposto vem das grandes navegações do século XVI, onde os conquistadores tinham o direito de explorar as terras por eles “descobertas” 

 “ (...) Os expansionistas acreditavam em uma convivência pacífica, onde poderiam aprender muito com as outras culturas.
 O expansionismo fora pouco mais do que um movimento do tipo "Destino Manifesto" ao ser fundado, uma coalizão popular de grupos que tinham uma única coisa em comum: a crença em que as fronteiras dos céus constituíam a questão mais importante no futuro imediato da raça humana. Bonforte dera ao partido fundamentos lógicos e uma ética, o tema de que a liberdade e os direitos iguais deveriam acompanhar a bandeira imperial. Continuava a bater na tecla de que a raça humana jamais deveria cometer os erros que a sub-raça branca perpetrara na África e na Ásia. Mas confundiu-me o fato - e eu não tinha preparo algum nesses assuntos - de que a história antiga do Partido Expansionista se parecesse tanto com a atual do Partido da Humanidade. Não sabia que os partidos políticos amiúde mudam tanto, enquanto crescem, como as pessoas. Soubera vagamente que o Partido da Humanidade começara como uma ala do Movimento Expansionista, mas jamais dedicara a isso um segundo pensamento. Na verdade, a cisão fora inevitável. Uma vez que os políticos que não tinham os olhos nos céus murcharam por força dos imperativos da História e deixaram de eleger candidatos, o único partido que estivera no caminho certo obrigatoriamente teria que dividir-se em duas facções. “



  Trata-se de uma obra com idéias políticas bem definidas, e a política é exatamente a base de seu enredo. Ele defende, até as últimas conseqüências, o primado da liberdade individual, no quadro da lei, da ordem e do patriotismo. 

 Boa leitura.

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