Enquanto o Deus do seu
mundo é associado somente ao bem, já que o mal foi personalizado por meio do
Demônio – uma forma simples e fácil de driblar esse conflito -, esqueceram-se
de que o mal é obra desse mesmo Deus; em consequência, o total responsável pela
existência. Bem e mal são forças antagônicas necessárias e complementares,
ambas fundamentais para concretizar definições e, portanto, obrigatórias para
determinar a velocidade das transformações. Assim, o demônio não pode existir
enquanto ser individualizado e independente, pois acaba sendo uma extensão
obrigatória de Deus. Se você aceita a tradição religiosa de que Lúcifer se
rebelou contra Deus, teria de aceitar que o poder criador desconhecia as
intenções de sua obra, a ponto de ela se virar contra ele. Nesse caso, Deus não
detinha o conhecimento dos passos desse anjo, demonstrando absoluta alienação.
Essa absurda ignorância depõe contra a amplitude e a abrangência do seu poder e
sua consciência, indicando uma incrível limitação.
Deus tem de ser obrigatoriamente ambas as
facções, porque não pode existir uma consciência ou percepção, principalmente
universal, que seja parcial, fracionada ou unilateral. É tolo achar que o bem
somente é o bem e o mal, somente o mal. Embora a polaridade seja uma condição
universal, existe como duas faces da mesma realidade. O preto é o oposto do
Branco, sendo que para obter o Branco será necessário a soma de todas as cores.
O imã possui um lado positivo e outro negativo, mas fazem parte da mesma massa,
assim tudo tem sua tese e antítese localizadas no mesmo cenário. O mal ou a
ignorância existe como básico, primitivo e rudimentar, é a ação e reação
simplista, enquanto seu extremo é a complexidade, o bem como conhecimento e
perfeição. Ser perfeito não é ser bom ou mal, é uma coexistência harmônica com
as leis universais. A vida só progride na percepção clara do conflito gerado
pelas diversas alternativas de existência. É impossível conceber e definir a
luz sem compreender que existe uma noite, ninguém pode ser bom se nunca superou
sua maldade, ninguém pode evoluir sem haver algo a superar, assim como não pode
haver um poder supremo que não perceba e contenha em si mesmo o bem e o mal, o
primitivismo, a degradação, o caos, a realização, a superação, a melhora, a
vida e a ordem, pois, sem isso, não seria capaz de sequer idealizar a evolução.
Se Deus é o criador, o ponto gerador do processo e de seus acidentes, é
gestador, determinante e continuador, é obrigatoriamente a síntese do bem, do
mal, do perfeito e do imperfeito, a prova de que tudo evolui, inclusive Ele.
Foi d’Ele que o bem e o mal se originaram. Sem Deus ou sem o poder gerador, não
somente não haveria bem e mal, mas absolutamente nada.
O poder maior existe e vive em e de todas as
coisas, vivas e inertes, que ocupam o Universo. A interação desses corpos, suas
mudanças e adaptações, os acertos e erros, suas conquistas e seus fracassos
alimentam essa força contida em cada elemento que participa. Cada corpo é parte
desse poder e manifestação concreta de sua existência, assim como cada ato é
demonstração clara da sua atividade expansiva e crescente.
Conceber a vida é um ato de consciência que
vai além da razão, pois é evidente que acontece e a experimentamos de inúmeras
maneiras. O universo existe e, nele, mundos, sistemas, galáxias, criaturas e
seres que fogem à sua imaginação. A origem do profundo vai além de qualquer
explicação, pois, mesmo que alguém negue sua existência, ele existe. Isso é fácil
de ser provado. Se você aceita uma origem ao próprio universo, toda
inteligência precisa reconhecer que no ato da criação foram dadas as bases de
todo o princípio. As leis da gravidade, da energia, da estrutura da matéria, da
vida e da evolução. Existiu e existe um poder ordenador que organizou e dispôs
tudo naquele momento. Se não for assim, de onde surgiu a primeira informação
que ordenou o DNA? O poder que comandou a estrutura do primeiro átomo? A força
que deu carga elétrica ao primeiro elétron? Uma estrutura organizada
previamente fundamentou e segmentou o princípio das coisas, não como um ato
pensado, mas como consequência de um processo diferenciado que atua por um
impulso preestabelecido e automático. O poder existe para agir e mediar as transformações,
contendo um montante de surpresas acessíveis à criatura que souber chegar lá.
Sua existência não é para ser adorada ou idolatrada, mas para ser um canal pelo
qual será descoberto o profundo sentido da vida e a missão conferida à criatura
inteligente desde os primórdios da criação. Nossa tecnologia nos permite
descobrir que a criação é um ato contínuo. Infinitos universos existem de
maneira superposta e sem se interferir mutuamente. Este é somente um deles, que
surgiu da destruição de um outro anterior.
O profundo encontra sua forma concreta quando
você imagina o universo visível e invisível. Tudo esta em transformação
contínua e o estado de equilíbrio estático inexiste. A busca é constante para
obter a condição de não permanecer imutável, pois, se tudo é a extensão dele,
somente poderá desenvolver-se em um processo de contínuas alterações até o dia
em que venha a atingir um estado de equilíbrio dinâmico organizado, e é bem
provável que seja este finalmente seu objetivo maior.
Do livro – ‘ Os semeadores de vida – A ação
dos guias Confederados na terra’ de C.R.P. Wells
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