“Nesta
época feliz, a trincheira era muito primitiva. Convencidos do próximo reinício
da marcha para a frente, julgávamos inútil construí-la confortavelmente. Pouco
profunda, sem abrigos subterrâneos, ela não era ligada por sapatas à
retaguarda; á frente nenhuma defesa acessória. Lá ficava-se tranquilamente, ao
escurecer, em pleno campo, de onde as patrulhas inimigas podiam aproximar-se
facilmente, protegidas pela escuridão. Isso dava ensejo a contínuos tiroteios
que, às vezes e sem razão, propagavam-se por toda a frente de um corpo de
Exército.”
TITULO:
Comandar
AUTOR:
Pierre Charles Émile Lebaud
EDITORA: Bibliex
PAG.:
140
Consegue imaginar a
Europa pós primeira Guerra mundial? Digo, do lado vencedor? O que pensavam os
homens deste período?
Bem esta
obra reeditada pela Bibliex nos trás uma visão bem interessante da Europa da
década de 20. Pierre Charles foi Tenente Coronel durante a primeira grande
guerra. Comandou as 101° e 130° regimento de infantaria. Além de fazer uma
narrativa sobre o inferno da rotina nas trincheiras, Pierre Charles faz uma
reflexão sobre o conflito e de como serão os conflitos depois da grande guerra.
Ele escreveu este livro como um manual para que as futuras gerações se
preparassem no caso de um novo conflito.
“
Ao fim da via-sacra, o regimento desembarca no Moulin-Brûlé, perto de
Nixéville, debaixo de uma chuva torrencial, e entra na cidadela de Verdun por
um itinerário desenfiado, atravessando o Bois-la-Ville e passando a leste do
Forte Regret. Já foi muitas vezes descrita a vida subterrânea dessa cidadela famosa... um mundo! Cada
soldado aí recebe víveres e munições para completar seus aprovisionamentos.
Logo no dia seguinte, chegou a ordem para entrar em linha. Atravessamos a
povoação de Belleville, quase em ruínas. Atrás da crista da vertente norte que
domina, muitas baterias estão em posição e atiram intermitentemente. Começa a
desolação do campo de batalha. Tudo se atola na lama: caixões, viaturas
quebradas, rodas de viaturas ou canhões, cartuchos, granadas, víveres, roupas
sujas e ensanguentadas...”
Uma coisa
fica clara, os Franceses se encheram de orgulho com a vitória sobre os Alemãs.
Durante a leitura observamos uma enxurrada de elogios ao soldado Frances, o ‘Poilu’. Nada é comentado a cerca do famoso
natal de 1914. Mas vale a pena um olhar mais atento com relação a previsão para
o futuro. Este livro, como disse, em forma de um manual, já trás em suas
entrelinhas um certo aviso, do tipo, “ Não devemos esquecer que o inimigo,
apesar de abatido, ainda ronda nossas fronteiras.”
Interessante
esta advertência vinda de um Frances, em plena década de 20, antes de estourar
a depressão. Ou seja, apesar da Europa estar passando por um momento de
reconstrução, havia, ou deveria haver uma sensação de calmaria após a
tempestade. Ou será que já se sentia na verdade a calmaria que vem antes de uma
tempestade?
Durante a
reunião de Ialta, os aliados concordaram que nenhum acordo de rendição seria
feito com a Alemanha. Apenas a derrota mediante a destruição de Berlin seria
aceita. Seria este um aprendizado dos termos da primeira guerra? Lembremos que
Hitler fez questão de que a assinatura da derrota Francesa fosse assinada no
mesmo vagão em que a Alemanha havia assinado a rendição de 1918. Rendição esta
que ainda é muito discutida.
Rendição Alemã-1918
Rendição Francesa-1940
Este livro
pode ser usado como uma fonte história bem interessante sobre o período. Não é
uma leitura, digamos, boa. Até pela
pagina 56 a leitura corre bem, depois ela inicia a etapa do manual que falei
acima. Então começa a ficar um pouco ‘desinteressante’. Porém ainda é uma
fonte, pois mostra como as coisas aconteciam até aquele período, neste
microcosmo que é o sistema militar francês da década de 20.
Boa leitura.