A palavra verdade
pode ter vários significados, desde “ser o caso”, “estar de acordo com os fatos
ou a realidade”, ou ainda ser fiel às origens ou a um padrão. Assim, "a
verdade" pode significar o que é real ou possivelmente real dentro de um
sistema de valores. Para Nietzsche, por exemplo, a verdade é um ponto de vista.
E se tratando de ponto de vista, esta
pode variar de acordo com os paradigmas que o norteiam. Por tanto, estudem,
leiam, dilatem seus paradigmas, expandam suas fronteiras...
Por que
iniciei meu post assim? Bem, tenho lido muitos comentários na internet a cerca
deste livro, porém percebe-se que poucos são aqueles que de fato entenderam seu
conteúdo.
TITULO: Faz parte do meu show
AUTOR: Robson Pinheiro
EDITORA: Casa dos Espíritos
PAG: 180
Eu já estava
procurando este livro para ler desde quando terminei a Trilogia “ O reino das
sombras”. Mas só agora consegui encontrá-lo. Foram 3 dias de leitura. E devo
confessar que enquanto desfolhava as últimas páginas já estava com pena de
terminar.
O trabalho
gráfico segue a excelente qualidade da Casa dos Espíritos. Uma capa super bem
elaborada, em contrastes fosco e brilhante.
“ O autor das palavras preferiu não se identificar diretamente; todavia,
em seus apontamentos, fica a sua marca. Em suas palavras, suas pegadas. Quanto
a mim, fui convidado tão-somente a auxiliar o verdadeiro autor destas
experiências com meu jeito de escritor e repórter dos dois lados da vida. Sei
que este trabalho causará polêmicas, discussões e rebeldia. Afinal, de uma
forma ou de outra, todos somos rebeldes, exagerados...aprendizes.”
A missão de Robson Pinheiro como médium é
psicografar livros que “incomodam”, que nos fazem pensar. E este não foge a
regra.
“ Eu delirei, mas também levei multidões ao
delírio. Neste frenesi de uma juventude fanática pelo sexo, pelas drogas e pelo
rock, eu aprendi a amar as meninas e os meninos que passaram pela minha vida.
Amei e amei até atingir o limite da loucura, da sensualidade, da liberdade
total, como eu classificava aquele meu jeito descontraído e descompromissado.
Aprendi a me ligar às pessoas de forma especial, cativando-as, conquistando-as
como outrora eu mesmo o fizera nos palcos da velha Europa, em outros corpos e em outras vidas. No auge da minha vida e da minha
carreira eu recebi o veredicto da vida: hiv! Aids!
Desmoronava para mim, para minha mãe e, naturalmente, para os amigos
mais íntimos, toda a minha insensatez.”
Uma obra incrível. Uma mensagem, ou melhor, um
grito pela vida. Com uma “pegada” poética, uma linguagem simples o livro já nos
cativa desde a primeira página.
“A morte
faz dessas coisas com a gente. No meu caso, além de despertar um sentimento de
culpa duramente reprimido, trouxe à tona um lado meu mais sensível, que somente
pode ser comparado com os momentos mais agudos da doença. A morte amacia corações,
dobra a nossa rebeldia. Afinal, rebelar-se mais, para quê? Contra que sistema?
Contra Deus e a vida? Eu não via Deus.(...)”
Um dos temas explorados no livro, é a questão
da sexualidade no mundo espiritual. Em seres que se encontram ainda em vibração
próximo a crosta, as sensações de fome, sede e sexual ainda são sentidas.
“Ao constatar em mim, como espírito, a força vibrante da sexualidade,
senti-me sem saber como dominar os velhos desejos que vez ou outra irrompiam
dentro de mim. E a fome e a sede que eu sentia? Como explicar que, como
espírito, eu sentisse as mesmas coisas que, em tese, somente fariam parte da
rotina de encarnado ou de quem possui um corpo físico? Como explicar, ou
melhor, como encarar o fato de que, mesmo depois de morto, eu continuasse a
sentir desejos? Isso tudo me incomodava
intimamente, quando fui apresentado a um espírito que, para mim,
representou a salvação da situação angustiante em que me encontrava.”
Um tema delicado, porém que nos servem de guia para entendermos mais um
pouco sobre este mundo.
Outro tema bem interessante, é sobre o efeito
das drogas no corpo espiritual.
“Eu não sabia o que dizer diante da situação daqueles espíritos. Tudo o
que observava repercutia em meu interior, e, de resto, a minha própria
consciência se incumbia de me cobrar. Lembrava penosamente minhas experiências
e meus excessos; algumas vezes, chegava a ficar deprimido ante aquelas
recordações. A maconha, a cocaína, o LSD e outras drogas haviam sido
companheiros de meus divertimentos. Acredito que,no meu caso, a morte se encarregou de colocar um ponto final em minha
dependência, antes que eu me danasse por completo. Abençoei a morte e o Hiv.”
Um livro para ser lido despido de
paradigmas, dogmas ou preconceitos.
Uma ótima leitura.
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