sábado, 2 de abril de 2016

A carga da Brigada Ligeira




      “Os sofrimentos, a coragem e a resignação exibidos na guerra da Criméia não foram desperdiçados em vão. Uma guerra menor, malsucedida e horrorosamente mal conduzida, mas que se revelaria de enorme importância. Ela originou profundas mudanças na condução dos assuntos militares, e até mesmo a incompetência que a caracterizou renderia bons frutos. Uma nova era de reformas no exército teve início, não apenas na Inglaterra, mas também na Europa e nos Estados Unidos: escolas de estado-maior foram inauguradas; modificaram-se as condições de comissionamento e promoção; e o serviço de saúde, a hospitalização, os suprimentos, os uniformes, o aprovisionamento, tudo foi analisado, estudado e aperfeiçoado. Acima de tudo, modificou-se a maneira de tratar o soldado raso. A bravura e a obstinada resistência do soldado raso na Criméia, pela primeira vez relatadas em jornais, constituíram-se em autênticas revelações. No início da campanha, ele era visto simplesmente como um brutamontes; ao final, como um herói. No exército, a assistência social, o sistema de educação física, os serviços de saúde, tudo isso surgiu como consequência da Guerra da Criméia. O sofrimento, assustador, não fora em vão.
   E isso quase poderia se caracterizado como um final feliz”


  





  TITULO:  A carga da Brigada Ligeira

   AUTOR: Cecil Woodham-Smith

   EDITORA: Biblioteca do Exército

   PAG.: 312







    Esta grande obra foi editada pela Biblioteca do Exército em 2005. Capas em Cartão 240g plastificado, mas belissimamente fosco e com orelhas. Todo o miolo em offset 75g, folhas um pouco finas, eu admito, da para ver o verso da folha enquanto lê, mas nada que atrapalhe.


   Os eventos narrados nesta obra, ocorreram durante a Guerra da Criméia.  Esta Guerra foi um conflito que se estendeu de 1853 a 1856, na península da Crimeia (no mar Negro), no sul da Rússia e nos Bálcãs. Envolveu,  de um lado o Império Russo e, de outro, uma coligação integrada pelo Reino Unido, a França, o Reino da Sardenha - formando a Aliança Anglo-Franco-Sarda - e o Império Otomano (atual Turquia). Esta coligação, que contou ainda com o apoio do Império Austríaco,  foi formada como reação às pretensões expansionistas da Rússia para alcançar o Mediterrâneo.


  Talvez nenhum evento militar, ocorrido no século XIX, seja tão bem resumido, do que a trágica e fútil Carga da Brigada Ligeira Britânica. As armas e o posicionamento superior do inimigo, associados à arrogância dos comandantes Ingleses, resultaram no massacre de centenas de bravos cavaleiros. Alfred Tennyson, resumiu o evento na celebre declaração: “ Não cabe a eles responder, Nem perguntar o porquê, A eles só cabe morrer: Dentro do vale da Morte Cavalgaram os seiscentos.”

  Talvez ele só tenha se confundido, pois os registros apontam cerca de setecentos cavaleiros, mas de qualquer forma  não deixa de ser trágico, ainda mais sabendo-se que ao final da carga, apenas 195 cavaleiros retornaram. Os números talvez não estejam exatos, outras fontes falam em 673 cavaleiros e a sobrevivência de pouco mais de 400, considerando aqueles que foram feitos prisioneiros.


    Mas a grande questão é: como este desastre foi possível? Para isto o autor faz um retrospecto da vida dos dois principais atores da tragédia, Lord Cardigan e Lord Lucan. Estas retrospectiva nos leva uma belíssima viagem pela Inglaterra Renascentista. A reverência do povo Inglês aos chamados Nobres e a pratica, defendida pelo parlamento, da compra das promoções dentro do exército, o que proporcionava à pessoas não qualificadas a assumirem postos de liderança, que seriam decisivos no resultado de Balaklava.

  “ É quase impossível retratar a deferência, a adulação e os extraordinários privilégios concedidos à nobreza na primeira metade do século XIX. Um nobre estava acima das leis aplicáveis aos outros homens. Ele poderia acumular dívidas e ninguém poderia prendê-lo. Quando um famoso grupo de farristas e perdulários, no qual se incluía Bea Brummel, faliu, somente um deles, Lord Alvanley, sobreviveu, ‘invulnerável por ser um nobre’, escreveu Greville. Um nobre poderia cometer um crime e nenhuma corte de justiça comum tinha jurisdição sobre ele.”

    Depois das vitórias sobre Napoleão, as honrarias militares eram mais desejadas que nunca. Assim, um nobre, com dinheiro, não poderia querer algo melhor, do que envergar um vistoso uniforme de General. E melhor seria se tivesse no peito uma condecoração de batalha.

                                       Victory Cross


   Então, esta foi a receita para o desastre da Brigada Ligeira. Comandantes despreparados, egocêntricos, individualistas e desprovidos de bom senso.


  Muito interessante nesta obra, é um retrato feito, pela autora, sobre a situação social da Irlanda no século XIX. Incrível, como que a maior parte da população se alimentava exclusivamente de Batatas. Relatos de senhores, com seus 60, 70 anos, que diziam que durante toda a sua vida não haviam comido outra coisa a não ser Batatas. Se quer sabiam o gosto de um pão. Esta situação se deveu, parte por uma política assistencialista errada, por parte da Inglaterra, ( Por isto devemos sempre rever a questão de políticas assistencialistas ), e por outro pelo talvez, ‘comodismo’ do povo. Um fato que merece estudo mais profundo com certeza.


    Depois do episódio, muito da culpa recaiu sobre o Lord Raglan, que na visão de Lord Lucan, havia enviado ordens mal redigidas, o que o levou a cometer o grande erro de colocar toda a cavalaria diante dos canhões Russos.


  Mas uma coisa não se pode negar, a coragem dos comandantes e a doutrina da tropa. Um General Francês que assistia ao ataque disse: “ Magnífico, mas não é guerra.”



“ Acima de tudo, o desastre foi fruto do sistema de comando do Exército Britânico. Oficiais despreparados e sem experiência exerciam o comando de divisões e brigadas em operações; o Estado-Maior desconhecia seus deveres e mostrava-se inteiramente incapaz de traduzir a intenção do comandante-em-chefe numa linguagem clara.”

   Sobreviventes da Carga da Brigada Ligeira

  Uma ótima leitura à todos!

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