“
Sendo um educador dos sentimentos humanos, deves servir de exemplo, sem que a
consciência te acuse de alguma coisa. Nada te faltará na jornada que
empreenderás na terra, como também aos teus companheiros; estarei contigo até
no último respirar, indicando-te o melhor caminho. Contudo, os teus caminhos na
Terra estão cheios de espinhos, como foi a minha coroa. As tuas mãos serão
cravejadas pelos agravos da indiferença, os teus pés sofrerão as durezas dos
caminhos, na inconsciência do que vais fazer. O teu corpo se mostrará em chagas
de todos os tipos, para que conheças os açoites do tempo e da ignorância
humana, e é nesta soma de valores imortais que poderás me conhecer, na
profundidade do coração, e dizer como o apóstolo Paulo: ‘O Cristo em mim é
motivo de glória’.
Não deves gemer de dor, mas somente cantar.
Não
deves blasfemar com tristeza, mas somente alegrar-te.
Com
ninguém, no mundo, deves reclamar, porém, confiar sempre na vida.
Não
deves esperar amor, mas amar todos sem distinção.
Não
deves procurar a tua satisfação, mas buscar as leis de Deus.
Não
deves buscar ouro nem prata, porém abençoá-la onde estiverem.
Não
deves querer conquistar qualquer pessoa para o teu rebanho, mas fazer com que
eles melhorem onde estiverem.
Não
deves usar de violência nem em pensamentos, mas deixa-te ser dominado pela
vontade de Deus.
Não
deves esquecer-te dos teus deveres, nem te lembrares dos erros alheios.
Deves,
sim, fazer o bem, em todos os aspectos que a vida te mostrar, para que tenhas a
verdadeira felicidade.
(...)”
TITULO:
Francisco de Assis
AUTOR:
João Nunes Maia
EDITORA:
Fonte viva
PAG.:
433
Um amigo me
emprestou este livro, o qual me revelou o verdadeiro significado do amor ao
próximo. Acredito que muitos conhecem a história de São Francisco de Assis,
quem não conhece vale a pena ver este filme antes de ler o livro:
Giovanni di
Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis (Assis, 5 de
julho de 1182 1 — 3 de outubro de 1226), foi um frade católico da Itália.
Depois de uma juventude irrequieta e mundana, voltou-se para uma vida religiosa
de completa pobreza, fundando a ordem mendicante dos Frades Menores, mais
conhecidos como Franciscanos, que renovaram o Catolicismo de seu tempo. Com o
hábito da pregação itinerante, quando os religiosos de seu tempo costumavam
fixar-se em mosteiros, e com sua crença de que o Evangelho devia ser seguido à
risca, imitando-se a vida de Cristo, desenvolveu uma profunda identificação com
os problemas de seus semelhantes e com a humanidade do próprio Cristo. Sua
atitude foi original também quando afirmou a bondade e a maravilha da Criação
num tempo em que o mundo era visto como essencialmente mau, quando se dedicou
aos mais pobres dos pobres, e quando amou todas as criaturas chamando-as de
irmãos. Alguns estudiosos afirmam que sua visão positiva da natureza e do
homem, que impregnou a imaginação de toda a sociedade de sua época, foi uma das
forças primeiras que levaram à formação da filosofia da Renascença.
Dante Alighieri disse que ele foi uma "luz que
brilhou sobre o mundo", e para muitos ele foi a maior figura do
Cristianismo desde Jesus, mas a despeito do enorme prestígio de que ele
desfruta até os dias de hoje nos círculos cristãos, que fez sua vida e mensagem
serem envoltas em copioso folclore e darem origem a inumeráveis representações
na arte, a pesquisa acadêmica moderna sugere que ainda há muito por elucidar
quanto aos aspectos políticos de sua atuação, e que devem ser mais exploradas
as conexões desses aspectos com o seu misticismo pessoal. Sua vida é
reconstituída a partir de biografias escritas pouco após sua morte mas, segundo
alguns estudiosos, essas fontes primitivas ainda estão à espera de edições
críticas mais profundas e completas, pois apresentam contradições factuais e
tendem a fazer uma apologia de seu caráter e obras; assim, deveriam ser
analisadas sob uma óptica mais científica e mais isenta de apreciações
emocionais do que tem ocorrido até agora, a fim de que sua verdadeira estatura
como figura histórica e social, e não apenas religiosa, se esclareça. De
qualquer forma, sua posição como um dos grandes santos da Cristandade se firmou
enquanto ele ainda era vivo, e permanece inabalada. Foi canonizado pela Igreja
Católica menos de dois anos após falecer, em 1228, e por seu apreço à natureza
é mundialmente conhecido como o santo patrono dos animais e do meio ambiente.
Por diversas
vezes interrompi a leitura do livro pois de fato meus olhos enchiam-se de
lágrimas. O livro trás uma mensagem muito forte sobre o verdadeiro sentido de
se pregar o evangelho. Dar o exemplo é a grande regra da ordem de Assis.
A pregação
ao Sarraceno não foi como mostrada no filme. Existe muito mais história da vida
de São Francisco do que chegou a nós pela Igreja Católica. Permita-me:
“Quando
Francisco entrou juntamente com seu discípulo Iluminato, conduzido por guardas
sarracenos e o sultão pôs a vista nos dois homens simples, pés descalços e túnicas
rotas, este explodiu em estrondosa gargalhada, que quase o sufoca em acesso de riso.
E falou impetuosamente:
-
O que esses dois mendigos querem comigo? Pensei que fossem dois agentes do
Clero Romano, com as pompas que lhes cabe desfrutar!
E
sorriu de novo.
Francisco,
humildemente, pediu licença ao chefe muçulmano e, cumprimentando-o, beijou-lhe
a mão com todo o respeito, desejando-lhe paz, no que foi secundado por seu companheiro.
O sultão ordenou-lhes que se assentassem e mandou servir refresco de frutas, perguntando-lhes
em seguida:
-
O que quereis de mim, vós que chegais até a minha tenda? Quais os ventos que
vos sopraram as ideias que me trazeis? Falai logo, que não tenho tempo a
perder, já que estamos em guerra. Sei, por experiência própria, que conversa
não vence batalha; os encontros são somente tréguas, senão alívio, para os que
estão perdendo e sofrendo o guante dos fortes.
-
Muito respeitável senhor!... Nós desejamos que entendais a posição de quem ama
a Deus sobre todas as coisas, aquele Deus a que podeis dar o nome que vos
convier. Ele jamais muda a Sua bondade e o Seu amor, por se tratar de outra
raça ou pelo modo como é entendido por ela. Todos somos irmãos diante do Todo
Poderoso.
Particularmente,
tenho muita admiração pela figura grandiosa de Maomé, que teve um gesto divino
de consolidar a fraternidade entre um povo, e essa unidade espiritual somente
pode ter nascido do Amor, esse Amor mal interpretado pelos que falam, pensam e
escrevem. Amor que vem de Deus, e, vindo de Deus, não pode ser destrutivo. E
força divina, com a divina presença dos homens que representam esse Deus de
Bondade.
As
guerras nascem da ignorância dos homens, que levam o nome de Deus para à frente
das batalhas, destruindo em Seu nome, como desculpa para ficar em paz com a consciência.
Como se enganam os que incentivam as batalhas e incrementam as guerras!
São
hipócritas, os medrosos e os covardes, que ficam sempre distantes dos campos de
lutas. Já vistes alguns dos que criaram as Cruzadas na frente de batalha? Nem
sequer os soldados os conhecem. As ideias de que a luta é de Deus vêm por
intermediários que são igualmente covardes, que matam até os próprios
guerreiros enfermos ou mutilados, exigindo dos que estão na frente, a vitória E
quando a alcançam, as glórias são dos que não lutaram, e as honras são dos
néscios dos que recuaram dos perigos.
Peço-vos
desculpas, se porventura vos ofendo com minhas palavras, mas se quero ter liberdade
de conversar com um simples soldado, uso dessa mesma liberdade para falar convosco.
A minha franqueza deve estender-se onde quer que seja e com quem me ouça, porque
a palavra de Deus não pode encontrar obstáculos. Está havendo um equívoco nessa
luta do Oriente com a Europa. Os mortos chegam a milhares de criaturas, todos nossos
irmãos, filhos do mesmo Deus, ou seja, do mesmo Alá, como O chamais. Todas as nações
reunidas formam um Lar Maior, onde Deus ocupou o tempo e o espaço para nos dar
a vida e meios de perpetuá-la, pois somos feitos, todos, da mesma massa divina
e nós, por ignorância, destruímos essas possibilidades, que a natureza gastou
tempo para nos ofertar por Amor de Deus e dos Anjos.
Que
diríeis se fosse preciso matar todos os vossos filhos e irmãos em vosso lar?
Qual a vossa opinião a respeito? Certamente seria contrário à guerra doméstica,
à matança dentro do próprio lar. Pois é contra isso que estamos aqui,
procurando despertar os corações para a realidade de estarmos lutando por um
pedaço de terra sem importância e destruindo, somente porque nele foram
colocados os restos mortais de um grande Sábio, de um grande Santo. Deveríamos,
então, respeitar o resto da Terra, porque, toda ela passou pelas mãos mais
Sábias e Santas de todos os sábios juntos: as mãos de Deus, as mãos de Alá. O
corpo humano que está sendo destruído sem respeito, é instrumento divino que
marca a presença de Deus no homem. E essa dádiva material dos Céus para nós
está sendo amontoada aos milhares, para os festejos dos corvos - dentre eles mulheres,
crianças e velhos - tudo isso feito sem piedade, por estarem afastadas dos corações
todas as virtudes geradas do Amor.
E
o mesmo que afastar Deus da alma, abrindo as portas dos sentimentos para os
agentes das trevas, brincando com a natureza divina que habita em nós.
Eu
gostaria de saber, em verdade, se entre os prisioneiros que as forças do
Oriente já encurralaram existe algum familiar de cardeais, bispos ou papas,
enfim, dos altos mandatários da Igreja Católica Apostólica Romana. Gostaria de
saber se nos exércitos que defendem o Santo Sepulcro existem familiares vossos
ou daqueles que formam convosco o império religioso que representais, perdendo
a vida na ponta de espadas e lanças, manejadas por hábeis matadores. Creio que
não!... É esse Jesus Cristo que nós pregamos, que não aceita que façamos aos
outros o que não queremos para nós; é esse Cristo que nos esforçamos por
imitar, quando pega a Sua cruz e segue com ela até ao topo do Calvário,
aceitando ajuda, mas nunca transferindo para ombros alheios o exemplo de coragem
que Ele devera dar. Ele é o nosso Guia Maior, que está sempre à frente de todas
as guerras e das lutas de toda ordem, razão por que os Seus discípulos n'Ele
confiam. Ele não manda, vai; não somente fala, mas faz; não somente distribui
conceitos, vive-os. A coragem de viver pela paz, desejando à humanidade somente
a Vida, somente o Bem e o Amor é a mais sublime que existe.
Os
homens que dirigem as nações se apoiam em homens, para não caírem nas mãos dos que
pervertem a ordem; os homens que pregam o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
firmam-se nas virtudes e têm como defesa a conduta reta, que nunca falha. Os próprios
soldados que agora vos protegem, amanhã poderão cortar a vossa cabeça em praça
pública, dependendo de quem detiver o poder. E qual a vossa segurança? A maior Segurança
está em Deus, e para tal é necessário
que cumpramos a Sua lei, a lei do Amor. Não quero cansar vossos ouvidos nem
enfadar o vosso coração com teorias, mas rogo paciência, aquela que a vossa
religião também ensina, e que penseis e analiseis o que estou dizendo, que
sendo o nosso Deus o mesmo, haverá de nos ajudar a compreender a Verdade, que
também é uma só para todas as criaturas.
Também
eu amo o Santo Sepulcro, mas amo-o como amo o chão em que agora pisamos, por
ser todo ele igual, como são todos os viventes no mundo. Por que matais para defender? Defender o que, se toda defesa
pertence a Deus? Neste momento - que nos perdoeis V. Alteza - somos somente
dois, viemos desarmados, não usamos da violência nem da arrogância no falar;
não agimos por ordem de alguém, que não seja de Deus e de Jesus que pensam
estar no Santo Sepulcro. Ele é espírito, e o Espírito sopra onde quer que seja;
é livre das contingências materiais e habita no lugar em que Lhe aprouver.
Cristo
não representa somente uma raça e não pertence a uma só nação. E, por
excelência, Universal, porque o Seu amor é o mesmo de Deus. Viemos ao encontro
de V. Alteza, em nome da paz, para apartar irmãos em luta contra irmãos.
Quantas viúvas e mães neste momento choram e sofrem a perda de seus
companheiros e filhos? Quanta calamidade se alastra por muitos países, por
causa de simples vaidade de conquista? Na verdade vos dizemos,
que ai daqueles que provocaram essas guerras em nome de Deus, ai daqueles que
desencadearam essa discórdia entre nações, ai daqueles que ainda alimentam ódio
entre irmãos. O próprio Jesus é quem disse: "Pagará ceitil por
ceitil!"
Nobre
sultão, o Cristo é Cristo livre, não está preso debaixo de alguns palmos de
terra, e, sendo o Príncipe da Paz, não veio insuflar as guerras!
Kamel
ouvia em silêncio profundo, remoendo ideias e selecionando pensamentos. Tinha em
sua mente, de fácil raciocínio, a imagem de Maomé e buscava no Alcorão
preceitos com os quais pudesse contestar a linguagem inspirada de Francisco.
Orava mentalmente, buscando recursos para dizer alguma coisa; no entanto, o
coração não permitia que falasse o contrário daquilo que ouvia da boca do Santo
de Assis, cuja presença, quando falava, mudava o ambiente, fazendo quem o ouvia
respirar uma atmosfera de Amor, de Paz e Fraternidade.
Kamel
estava como que preso a conceitos diferentes dos que estava acostumado a ouvir,
partindo da religião em que nascera. Sentiu que precisav verdadeiramente,
aprender mais do que sabia acerca de outras religiões e mesmo d outros povos.
Sentiu-se fraco diante daquele homem sem expressão física, de pés no chão e
túnica que o tempo já começara a destruir. ” Nem os seus servos se vestia"
tão mal assim! Entrementes monologava:
"Vestes
e sandálias não falam nem pensam, e as
companhias não valoriza o acompanhado. Vejo-o como realmente é; vejo e admiro a
sua alma, o Espírito que me fala. E esse é grande pelo que é. Por Alá, que
homem é esse?"
Olhando
para Francisco com os olhos marejados de lágrimas, deu sinal para que os seus servidores
saíssem, mesmo aquele que não se afastava um só momento de sua companhia.
E
ficaram os três homens, em profundo silêncio. Talvez fosse a primeira vez em
que o sultão manifestava humildade diante de alguém, mormente d um estrangeiro,
na posição de inimigo. Passou as mãos no gordo rosto, com ímpetos de tirar o
turbante da cabeça, e falou na frequência que pôde imprimir à sua palavra:
-
Bom homem! A força religiosa que me sustenta o coração parece t anulado o meu raciocínio,
e como não encontro pessoas como tu, que falam o que pensam, na inspiração que
lhes cabe, pela meditação que o seu Deus sente bem em lhes falar, fico isolado
de outras ideias de Alá. Se nunca pensei no que ouvi, sinto que tem lógica o
que dizes, e vou me servir dessas ideias como sementes dentro d minha cabeça, e
pedir ao Poder Superior que, se elas forem parceiras da Verdade, que me ajude a
tratá-las, como sendo o melhor para mim.
Peço-te
que rogues ao teu Deus por mim, a fim de que eu possa ser eu mesmo, sem sofrer influências
que não sejam as ditadas pela Verdade. Quando dou ordens que contrariam o andamento
natural das coisas, sinto que estou ultrajando a própria consciência; no entanto,
a vaidade me instiga para tal, de sorte que, n~ mesmo instante, sinto-me bem ao
aplicar a lei, que eu mesmo já acho conveniente.
Como
disseste, devemos no mundo trabalhar uns pelos outros, como se fôssemos uma só família,
a família universal de um Deus único e verdadeiro. Ao invés disso, promovemos, à
nossa revelia, divisões das coisas sagradas, levados pela posição que ocupamos
diante do povo que, muitas vezes, exige de nós o que não queremos fazer.
Se não o fizermos, esse mesmo povo nos agride
e, pela violência, nos expulsa do lug-que ocupamos. A coragem quase sempre nos
falta e deixamos de cumprir o dever de honra junto à nossa consciência, que nem
sempre está acordada.
Sinto
que, na teoria, estás certo no que falas, mas, na prática, neste país onde o
teu Deus de Amor não é conhecido, é impossível viver desta maneira. Não acabas
de dizer que os próprios dirigentes da tua religião fogem ao dever? Como a
massa humana poderá entender aquilo que os que falam não vivenciam? Ficará
sempre na pauta das histórias, mais nada. Vejo que és um homem diferente dos
outros, principalmente, dos da religião a que chamas cristã. O teu Mestre foi
divino, porém, Seus continuadores humanos são de classe muito inferior, em se
comparando com o Mensageiro dos preceitos que ora esposas. Não quero, nem me
acho na posição de ferir alguém, mas os teus chefes na Terra, se é isso que
devo falar, são uns inúteis, na guerra e na paz, e, principalmente, nesta
última. Vejo também que és um homem corajoso, um soldado sem armas, porque elas
provam que não lutamos pela paz e, sim, para anular os inimigos e destruir as
coisas que chamamos santas.
Não
me esquecerei do que falaste e da tua presença que muito me anima para o lado
do bem comum; não vejo nesta hora o que vestes e o que calças; não levarei em
conta se és cortejado pelo exército de Roma, mas admiro-te pelo que és, pelo
que podes mostrar e pelo que deves ser.
O
sultão teve, várias vezes, vontade de beijar as mãos de Francisco de Assis,
pela sua humildade e seu interesse pela paz da coletividade. Notou, no
intervalo das suas palavras, que aquele homem simples à sua frente, era
verdadeiramente um cidadão universal. Tinha certamente uma Pátria: a Pátria do
Amor, sentimento que nunca encontra barreiras para manifestar-se. Não se curvou
diante de Francisco pelo entrave da posição que ocupava e pelo condicionamento
que a sua estrutura lhe impunha. E ainda mais, o seu povo nunca saberia
entender isso. No entanto, um Espírito de alta envergadura, que o inspirava nas
conversações e no modo de ser, fê-lo, com toda ternura que lhe competia agir,
diante de tamanha ajuda ao seu tutelado. Esse Espírito era Maomé que, com todo o
seu acervo de qualidades conquistadas na lavoura do tempo, beijou as mãos de
Francisco, segredando em seus ouvidos psíquicos:
-
Caro companheiro em Jesus Cristo!... Quero-te com o mesmo amor que dispensas
aos outros, na linha de trabalhos que empreendeste diante da calamitosa
situação em que se encontra o mundo, nas investidas que as sombras incentivam,
como as Cruzadas e os tribunais do Santo Ofício.
Aquele
que abraçaste como teu Mestre, também o tenho como Guia Espiritual. Foi sob as Suas
bênçãos que tive oportunidade de formar um agrupamento com ideias renovadas, diferente
dos velhos preceitos que escravizam as almas, sem lhes dar direitos que lhes pertencem
como seres humanos, filhos do mesmo Pai Celestial.
Na
época em que vesti um corpo de carne, também fiz guerra e venci; fiz uma peregrinação
à Meca e pressionei a massa para a crença que formulara, donde saiu o Alcorão,
escrito em couro de animais, por processos que a humanidade deverá conhecer no
futuro. Cometi muitos erros e procuro repará-los, por meios que neste momento observas,
de induzir as criaturas que no momento ocupam lugares de destaque, representando
um Maomé que alimenta outras ideias, um Maomé que procura o Cristo como sendo o
Sol que nunca se apaga no turbilhão da vida humana e espiritual.
Agradeço-te
pelo que fazes por este sultão. Comoveste esta criatura isso já é algo de grandioso.
Todos nós trabalhamos pela unidade espiritual da Terra; no entanto, as dificuldades
encontradas são difíceis de serem removidas. A tua presença para nós é de grande
valia, pois no ambiente que fazes, no campo dos sentimentos agimos com mais eficiência.
Já conquistaste um grande tesouro
sobremaneira divino, o tesouro do Amor.
Francisco,
Esse a quem chamas de teu Mestre, O é também para nós e eu considero-me um
simples mendigo diante desta figura incomparável, sem expressão no verbo do
mais eloquente tribuno, e sem condições de ser retratado pelo pálido concurso
da escrita.
Querer
explicá-Lo, em Sua grandeza, será diminuí-Lo. Fui como que um Seu precursor, para
avivar nos árabes a crença em Deus, o Alá que eles tanto amam, sem ainda compreendê-Lo.
A
massa não pode, por enquanto, conhecer a Verdade do modo pelo qual nós a conhecemos.
Há muito trabalho a se fazer nos corações das criaturas, e os dirigentes religiosos
gastam todo o tempo em construções exteriores, como se a paz e a felicidade morassem
fora de nós. Eu te compreendo, como me compreendes, no alto sentido do Amor
Universal.
Por
último, quero agradecer-te pelo que fazes a este que estimo e ajudo na sequência
da minha missão, que só terminará quando terminar o ódio entre as raças e
castas. Que Deus nos ampare!...
Enquanto
Francisco ouvia a palavra do fundador do Islamismo renovador, o sultão que, ensimesmado
meditava, recompondo-se, abraçou-o com renovadas esperanças de paz entre as
duas forças em guerra.
Depois
que Francisco partiu, o Sultão ficou muito tempo em meditação, examinando o que
ouvira daquele homem de Deus. Notou que não doía mais o velho ferimento que tinha
debaixo do braço esquerdo e que muito o fazia sofrer. Era uma chaga purulenta, resistente
a remédios e tratamentos pela ciência da época. Passou os dedos no lugar da enfermidade
e, não sentindo dor alguma, afastou as roupas e constatou que ela se fechara por
encanto. E logo deduziu:
"Foi
aquele homem! Ele é um enviado de Alá!"
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