“ (...)
Quantas tolices não tem cometido os tolos
que julgam que o espírito não sofre dor alguma, a não ser aquelas dos seus
mentais. Embora essas também existam, elas estão mais relacionadas aos reflexos
condicionados da dor sofrida no corpo carnal e aos remorsos por erros cometidos
do que com a dor do corpo espiritual.
Esta sim é um tormento. Eu a vivi com grande
intensidade e posso dizê-lo com toda a segurança: o corpo espiritual vibra
tanto com a dor a ele infligido quando o corpo carnal.
Digo isto porque, se não fosse os seus
amigos terem dado o alívio da cura antes da doutrina, talvez eu ainda estivesse
vagando nas trevas da ignorância das coisas divinas.
Mas não! Primeiro curaram minhas feridas,
depois saciaram a minha sede, e só então vieram doutrinar-me para as coisas
divinas.
(...)”
TITULO:
Diálogo com um Executor
AUTOR:
Rubens Saraceni
EDITORA:
Madras
PAG.:
120
Já há algum tempo eu
tenho ouvido falar dos livros escritos pelo Saraceni. Tenho um amigo que é um
fã incondicional dele, tem todos os livros escritos por ele e inclusive já pode
conversar com ele quando ainda vivo. Rubens Saraceni veio a falecer em Março de
2015.
Na Bienal
deste ano eu adquiri um dos livros dele, cujo título esta escrito acima. O
trabalho editorial e gráfico é o padrão da Madras, muito bem feito. Todo o
miolo em papel offset de média/alta gramatura, ou seja, as letras da página de
trás não atrapalham a sua leitura.
O livro é de
certa forma pequeno, para quem esta acostumado a ler, é uma leitura rápida. Eu devo confessar que o li em aproximadamente quatro
horas. A maior parte dele é escrita em forma de diálogo, o que da uma dinâmica
muito grande para a leitura.
Porém não é
um livro de ‘digestão’ assim tão fácil. É perturbador! A história apresentada é
a história de Mário Ventura, um espírito hoje na Luz. Mas que andou por muito
tempo nas trevas e da ignorância das coisas divinas e sagradas, tal qual
muitos de nós.
Mário
Ventura, através da sua história, nos mostra o que ocorre quando, pessoalmente,
tomamos em nossas mãos os rigores que somente à Lei Divina pertencem. Durante
sua trajetória ele vivência inúmeras situações que mostram as mais chocantes expiações
a que são submetidos todos aqueles que ousam interferir no seu próprio carma
expiatório.
O “Diálogo
com um Executor” traz a introdução ditada pelo próprio Mário Ventura, o autor
espiritual do livro. O grande ponto deste livro, é que ele nos faz pensar e
voltar o nosso olhar para dentro de nós e ver o quanto somos frágeis, ou de
certa forma, até manipuláveis se não temos o conhecimento adequado.
Já gostaria
de adiantar a você que se interessou em comprar e ler este livro, que a questão
da sexualidade é muito explorada ao longo da obra. Logo assim que o nosso autor
espiritual desencarna, ele viaja num ônibus, onde ele pode assistir como certas
entidades provocam um casal a se estimularem o que gera em seguida um caso de
obsessão sexual destas entidades. Na verdade esta parte é uma preparação ao que
vem depois, no decorrer do livro.
Outro ponto bem interessante, já colocado no
texto de abertura deste post, é a questão da dor que o espírito pode sofrer. A
observação do espírito a um certo desejo de ‘vingança’ que pode leva-lo de volta
aos caminhos sombrios do ódio e da dor.
Mas uma
parte da estrutura deste mundo espiritual nos é mostrado, em várias partes do
livro. São entidades identificadas como "protegidos",
"protetores", "guardiães transformadores" e "guardiães
executores". Esta é uma parte que achei um pouco confusa, se alguém puder
ajudar agradeço. Pelo que entendi, existem entidades que apesar de estarem no
chamado ‘reino das sombras’, fazem os trabalhos solicitados pelo mundo da luz.
Como eles falam, “Alguém tem que fazer o trabalho sujo.” E este trabalho é uma
forma de elevação para estes espíritos.
E, acho que
esta é a principal questão do livro, a obra nos trás uma visão a cerca da justiça
divina e do carma. Mario Ventura na sua tentativa de ajudar a sua família encarnada,
acaba interferindo no carma e no destino de todos. No fim, para que ocorra a
elevação do seu espírito ele deve queimar todo o carma acumulado e de certa
forma gerado por ele enquanto desencarnado.
“Era a lei divina atuando implacável sobre
aqueles que não souberam dosar suas emoções e as desequilibram.
Meu Deus! Como era triste ver o sofrimento
daqueles infelizes. Eu os olhava e sentia pena, pois não passavam de vítimas de
suas próprias loucuras, agora transformados em algozes de si próprios; seus
torturadores e os causadores das dores e do sofrimento, quem eram senão os seus
outrora tão valorizados membros viris?
Que horror! Eles os olhavam como se fossem
os piores demônios castigadores. Amaldiçoavam seus sexos carcomidos pelos
vermes e miasmas. Urravam de dor e clamavam por auxílio e perdão por terem se
deixado envolver e conduzir por essa emoção tão gratificante quanto equilibrada
com o todo contido no vaso da vida, mas tão perversa quanto bestializada.
Era a lei divina agindo de forma sábia e
implacável sobre o ser humano.
(...)”
E por fim, ele nos
mostra que em todos os momentos a escolha é nossa. Até quando seu espírito
sofria os piores flagelos, a escolha era dele, poderia passar por aquilo e
aprender, ou poderia simplesmente abdicar da dor e do sofrimento e deixar-se
cair no abismo do mundo sombrio.
Uma ótima leitura à
todos!