sexta-feira, 1 de junho de 2012

Antoine de Saint-Exupéry

 Para entender uma obra é preciso compreender seu autor. Por vezes uma obra literária que a primeira vista possa parecer uma simples obra infantil, na verdade pode ser mais complexa que isto.
 Acredito que você já tenha lido, visto o filme, ou pelo menos ouvido falar no Pequeno Príncipe. Eu vi o filme pela primeira vez, deveria ter uns 8 anos. Quando pelos meus 12 anos tive a oportunidade de comprar o livro. Uma coisa interessante do Pequeno Príncipe, é que cada vez que você o lê, parece que seu significado filosófico vai se modificando e se adaptando a sua idade.
 Mas, como eu estava dizendo no inicio, para entender uma obra é preciso compreender seu autor. E nesta caso, obviamente estou falando de Antoine de Saint-Exupéry. Nascido em Lyon, à 29 de Junho de 1900. Filho de nobres Franceses, sempre demonstrou inclinação à filosofia.  Aviador, escritor, filosofo, humanista,... Saint-Exupéry estava à frente de seu tempo. Se a França tivesse que salvar alguém da Guerra, esta pessoa deveria ser ele. Mas o Homem, não podia ficar longe “dos homens”. Em 1944, o avião que pilotava, um P-38 de reconhecimento avançado, foi abatido. Durante anos seu paradeiro fora uma incógnita. Até que em 2004 os restos de seu avião foram encontrados. O corpo jamais foi encontrado. É mais feliz assim, faz-nos supor que o Príncipe o levou à conhecer as estrelas.


 Eu já li alguns outros livros de Saint-Exupéry, como “Um sentido para a vida.” e “Cidadela”. Recomendo ambos. Mas o livro do qual gostaria de falar aqui, é um bem menos conhecido, publicado após a sua morte:

TITULO: ESCRITOS DE GUERRA
 AUTOR: ANTOINE DE SAINT-EXUPERY
EDITORA: NOVA FRONTEIRA
PAG.: 620

 A edição que comprei, em 1994, é de 1986. Desconheço reedições mais recentes. Então provavelmente você só o encontrará em sebos, ou na internet.
 O livro na verdade, não é uma obra literária do autor. Trata-se de uma coletânea de notas, cartas, artigos,... Alguns inclusive inéditos.
O livro divide toda esta documentação por ano, vindo desde 1939, até o ano de 1944.
 Algumas das cartas enviadas por Saint-Exupéry à amigos, trazem alguns rabiscos do “principezinho”.  Alguns destaques que gostaria de deixar registrado:

Vergonha da Guerra...Vergonha da Paz
 Para curar um mal estar é preciso esclarecê-lo. E certamente vivemos no mal estar. Escolhemos salvar a Paz. Mas salvando a paz, mutilamos os amigos. E sem dúvida muitos dentre nós estavam dispostos a arriscar a vida pelos deveres da amizade. Estes conhecem uma espécie de vergonha. Mas se tivessem sacrificado a paz, conheceriam a mesma vergonha. Porque teriam então sacrificado o Homem: Teriam aceitado o irreparável desmoronamento das bibliotecas, das catedrais (...). Quando a paz nos parecia ameaçada, descobrimos a vergonha da guerra. Quando conseguimos evitar a guerra, sentimos a vergonha da paz.”

 A moral do Declive
 “ Nossa finalidade na guerra? Defender nossa própria substância. Mais do que nossas leis, mais do que nossas pedras, mais do que as fábulas de La Fontaine, (...). Combatemos para que não tenham o direito de ler nossas cartas em público, para não sermos submissos à massa. Para rezar quando nos agrada, se somos religiosos. Para escrever como nos agrada, se somos poetas. (...)

 Aos Americanos
Em procurar apreender o mundo em um sistema conceitual e eficaz reside, na verdade, a grandeza do espírito humano.
 Mas é também fraqueza sua acreditar nisso demais. Quando um sábio fundamenta uma teoria, ele não crê desde o começo em suas qualidades. Sabe que não se trata senão de uma linguagem apropriada a ordenar o mundo e que somente a ordem vale alguma coisa. A virtude de uma teoria é a clareza. E a teoria é abandonada se criar mais obscuridade que clareza.(...)
Sim, a Alemanha foi uma grande nação de sábios, mas ela não é mais uma nação de técnicos. Vocês sabem como se desenvolve o pensamento humano: da livre contradição nasce um feixe de provas contrárias que opõem o movimento de seus contrários ao movimento da única teoria. E, quando o mal estar é muito grande, quebram-se os moldes estreitos demais. (...).  A liberdade do espírito é que permite a progressão do pensamento.
(...)”

 O livro também apresenta um rascunho de ideias que mais tarde se tornarão o livro “Cidadela”. É muito interessante notar que Saint-Exupery se refere a “conceitos”, ele escreve assim:
“ Conceito da troca
  Conceito dos saqueadores.(Acabar com a nascente bebendo)
 Conceito das perguntas que morrem
 Conceito do tempo que corre e do tempo que preenche.
(...)”

 O livro trás uma série de cartas, inclusive para sua mãe, à amigos e algumas em respostas a outras, onde Saint-Exupéry mostra todo seu “eu” interior.
 Uma carta que achei bem interessante foi uma dirigida a Roger Beaucaire, que inclusive é inédita até então.
  A carta, só para ilustrar, termina brilhantemente assim:

“(...)
 O que, alias, não serviria para nada, pois você me repreenderia em seguida por propor somente uma verificação matemática, não uma demonstração, uma vez que teria sido necessário distinguir os parâmetros que definem eletronicamente os corpos verdes e só os definem, e depois expor que a demonstração vale por esta medida comum, qualquer que seja o objeto aplicado.
 O que é sem dúvida um trabalho excessivamente chato. Eu, por mim, admito que a cor verde não atrapalha os pêndulos.”

 Um texto que você já deve ter ouvido, ou lido em algum outro livro, de autoria de Saint-Exupéry, chamado “Carta a um refém”, também esta nesta obra.
 Ele trabalhava como repórter durante a guerra civil Espanhola, quando foi preso e condenado a morte por espionagem. É um texto com observações profundas, sensibilidade e patriotismo notável.

“(...).
 Parece-nos, ao contrário, que nossa ascensão não terminou, que a verdade de amanhã nutre-se do erro de ontem, e que as contradições a suplantar são o húmus de nosso crescimento. Reconhecemos como nossos aqueles mesmos que diferem de nós. Mas que estranho parentesco! Ele se baseia no futuro, não no passado. No fim, não na origem. Somos, uns para os outros, peregrinos que, ao longo de caminhos diversos, sofremos em direção ao mesmo encontro.
(...) Os problemas são incoerentes, as soluções contraditórias.A verdade de ontem esta morta, a de amanhã esta ainda por construir. Nenhuma síntese válida é entrevistada, e cada um de nós detém apenas uma parcela da verdade. Por falta de evidências que as imponham, os credos políticos apelam para a violência. E eis que, dividindo-nos quanto aos métodos, arriscamo-nos a não mais reconhecer que nos apresamos para o mesmo fim.
(...)”

 O que mais dizer sobre este livro?
 Acho que deu para perceber que eu gosto de Saint-Exupéry. Ainda vou falar aqui de outros livros dele. Eu recomendo todos eles:

- O aviador
 - Correio do sul
 - Voo Noturno
 - Cidadela
 - Terra dos Homens
 - Um sentido para a Vida
 - O Pequeno Príncipe

 Se você leu o Pequeno Príncipe, leia este livro, depois retome a leitura da Pequeno príncipe. Um experiência que vale a pena.

 Ótima leitura para você.

 LINKS

 http://pt.wikipedia.org/wiki/Antoine_de_Saint-Exup%C3%A9ry
 http://www.frasesfamosas.com.br/de/antoine-de-saint-exupery.html
 http://www.antoinedesaintexupery.com/

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