Em fóruns sobre livros, é comum perguntas do tipo:
“- Qual livro você
mais gostou de ler? Ou;”
“ - Qual foi o primeiro livro que você leu?, ainda;”
“ - Qual o seu livro de cabeceira?”
Eu penso na seguinte
pergunta:
- Qual foi o primeiro
livro que você comprou?
Entenda, que o ato de
ir deliberadamente a uma loja e comprar um livro é infinitamente superior a
você ganhar um livro. Mesmo que este fosse objeto de desejo.
Hoje eu fiz esta
pergunta a 2 pessoas e os olhos delas brilharam ao recordar o ocorrido.
Como disse, cresci em
meio a livros, mas ainda não tinha comprado o “meu livro”. Minha mãe sempre me
dava livrinhos da coleção vaga-lume, que eu devorava no mesmo dia.
Eu devia ter uns 11,
12 anos na época, havia juntado um dinheiro e pedi para que meu Pai me levasse
para comprar um livro. Ele me levou então para o centro do Rio de Janeiro,
Palácio Duque de Caxias, BIBLIEX, para quem não conhece, Biblioteca do Exercito.
Meus olhos deviam brilhar. Eu já lia os livros da Bibliex desde meus 7 anos.
Assim que entrei fiquei
perdido, eram muitas opções. Até que vi um livro, estava em uma arara, abaixo
do balcão. Sua capa trazia um P-47 subindo com uma enorme explosão logo atrás e
o título em cima, “SENTA A PUA !”.
Titulo: Senta a Pua!
Autor: Rui Moreira
Lima
.Editora: Bibliex
. 451 páginas
O livro narra a
história da participação da Força Aérea Brasileira na campanha da Itália. Integravam
o 350Th Fighter Group da Força Aérea Americana. No total o 1° Grupo de aviação
de caça executou 445 missões em território inimigo.
Toda a história é
contada do ponto de vista do Autor,e ai vale um parênteses sobre o autor:
Rui Barbosa Moreira
Lima, natural de Colinas, nascido em 12/06/1919. Foi o piloto de combate da
esquadrilha verde no 1° Grupo de Aviação de Caça (GAvCa) da Força Aérea
Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Durante o combate, executou 94
missões. A primeira aconteceu no dia 6/11/44 e a última em 1/05/45. Basicamente
a missão do 1ºGpAvCa era a de caça-bombardeiro, e missões de reconhecimento
armado e interdição, em suporte ao 5º Exército Norte-Americano, ao qual a Força
Expedicionária Brasileira estava ligada.
A narrativa é
enriquecida com depoimentos dos pilotos que foram derrubados e que ou foram
presos ou conseguiram, de maneira cinematográfica, retornar as linhas amigas.
Tudo temperado pela mão do autor.
Nas palavras do então
Ministro da Aeronáutica, Délio Jardim de Mattos:
“(...) Entendemos a obra, acima do valor literário, como um
sério trabalho de reconstituição histórica, onde a riqueza de detalhes é a
Tonica, e o respeito, aos companheiros que tombaram, sua maior virtude.(...)”
É até interessante falar
deste livro agora, pois o mesmo foi relançado pela Action Editora.
Não vou aqui me
delongar mais sobre o que foi o 1°Grupo de caça, ou sobre sua participação na
guerra. Existem milhares de sites, Blogs,... sobre estes assuntos. Vou me ater
ao livro em si.
Para quem iniciar a
leitura, percebe logo que os primeiros capítulos são de um cunho militar bem
específico. Para quem não esta acostumado, pode chegar a desanimar. Vai uma
dica, comece a ler pelo capitulo V, depois de um tempo, já familiarizado com o
estilo do livro, alguns termos, volte e leia os primeiros capítulos.
Um ponto que acho
interessante no livro, é que, da forma em que foi editado, parece vários livros
dentro de um só. Isto se deve ao fato de Rui M. Lima fazer de cada capítulo, um
livrinho a parte, sobre cada membro do 1° Grupo de caça. E ele o faz de forma
tão calorosa, que chega a monopolizar a atenção.
Alguns destaques que
gostaria de fazer:
- Ao longo dos
relatos de vida dos pilotos que foram abatidos e conseguiram voltar as linhas
amigas, ficamos conhecendo um pouco do comportamento dos Partisans. A resistência
Italiana. Conhece-se um pouco de seus métodos de operação, sua estrutura e todo
o lado humano que aflora em situações no qual o homem é colocado de frente a
situações de vida ou morte.
Os relatos dos pilotos feitos
prisioneiros pelos alemães, nos fornece um cenário incrível sobre os campos de
prisioneiros, suas interações, seus sonhos e esperanças. Em confronto a
situação de reclusão junto a outras culturas, porem com objetivos iguais.
Para quem estuda a História da
Segunda Guerra, é um livro obrigatório. Estudantes de história em geral,
necessário.
Falar em História, permita-me
narrar uma situação bem inusitada ocorrida com este que hora escreve e no qual
este livro teve uma certa participação.
Era 1994, eu estava no 2° ano do
2° Grau. Já havia lido este livro umas 2 ou 3 vezes.
O Prof° de história do Brasil
estava lecionando sobre a era Vargas e a Segunda Guerra. De repente ele começou
a falar da “vergonha” que o Brasil passou na Guerra, mal preparados, mal
equipados. Que os aviões não passavam de velhos teco-tecos... Nesta hora eu não
me contive e explodi. Afinal de contas eu lia sobre o conflito desde meus 8
anos. Sabia identificar qualquer aeronave e conhecia muito do P-47. Eu lembro
que despejei tudo em cima dele. Na hora ele apontou o dedo para mim e disse que
minha opinião não havia sido pedida. Eu então respondi que não era minha opinião,
mas sim fatos históricos. E que opinião era o que ele havia dito e por sinal
totalmente errada. Foi a gota d’água, fui expulso da sala.
No ano seguinte, já no 3° ano, o
outro professor, de história Geral, me convidou a dar uma aula sobre a Segunda
Guerra para o Pré-vestibular. Assim é vida.
Continuando... Para quem curte
aviação não deve faltar na prateleira.
O Bial que me desculpe, mas os pilotos do 1° Gavca sim, foram os verdadeiros herois.
Boa leitura e até a próxima.
Para saber mais, recomendo os
seguintes livros:
L.F. Perdigão, "Missão de Guerra", Biblioteca do
Exército-Editora, Rio de Janeiro, 1958.
C. Lorch, "A Caça Brasileira - nascida em
combate", Action Editora, Rio de Janeiro, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário