quinta-feira, 10 de maio de 2012

Qual foi o primeiro livro que você comprou?


Em fóruns sobre livros, é comum perguntas do tipo:
 “- Qual livro você mais gostou de ler? Ou;”
“ - Qual foi o primeiro livro que você leu?, ainda;”
“ - Qual o seu livro de cabeceira?”

 Eu penso na seguinte pergunta:

 - Qual foi o primeiro livro que você comprou?

 Entenda, que o ato de ir deliberadamente a uma loja e comprar um livro é infinitamente superior a você ganhar um livro. Mesmo que este fosse objeto de desejo.
 Hoje eu fiz esta pergunta a 2 pessoas e os olhos delas brilharam ao recordar o ocorrido.

 Como disse, cresci em meio a livros, mas ainda não tinha comprado o “meu livro”. Minha mãe sempre me dava livrinhos da coleção vaga-lume, que eu devorava no mesmo dia.
 Eu devia ter uns 11, 12 anos na época, havia juntado um dinheiro e pedi para que meu Pai me levasse para comprar um livro. Ele me levou então para o centro do Rio de Janeiro, Palácio Duque de Caxias, BIBLIEX, para quem não conhece, Biblioteca do Exercito. Meus olhos deviam brilhar. Eu já lia os livros da Bibliex desde meus 7 anos.
  Assim que entrei fiquei perdido, eram muitas opções. Até que vi um livro, estava em uma arara, abaixo do balcão. Sua capa trazia um P-47 subindo com uma enorme explosão logo atrás e o título em cima, “SENTA A PUA !”. 




 Titulo: Senta a Pua!
 Autor: Rui Moreira Lima
 .Editora: Bibliex
. 451 páginas

 O livro narra a história da participação da Força Aérea Brasileira na campanha da Itália. Integravam o 350Th Fighter Group da Força Aérea Americana. No total o 1° Grupo de aviação de caça executou 445 missões em território inimigo.
 Toda a história é contada do ponto de vista do Autor,e ai vale um parênteses sobre o autor:
 Rui Barbosa Moreira Lima, natural de Colinas, nascido em 12/06/1919. Foi o piloto de combate da esquadrilha verde no 1° Grupo de Aviação de Caça (GAvCa) da Força Aérea Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Durante o combate, executou 94 missões. A primeira aconteceu no dia 6/11/44 e a última em 1/05/45. Basicamente a missão do 1ºGpAvCa era a de caça-bombardeiro, e missões de reconhecimento armado e interdição, em suporte ao 5º Exército Norte-Americano, ao qual a Força Expedicionária Brasileira estava ligada.
 A narrativa é enriquecida com depoimentos dos pilotos que foram derrubados e que ou foram presos ou conseguiram, de maneira cinematográfica, retornar as linhas amigas. Tudo temperado pela mão do autor.

 Nas palavras do então Ministro da Aeronáutica, Délio Jardim de Mattos:
“(...) Entendemos a obra, acima do valor literário, como um sério trabalho de reconstituição histórica, onde a riqueza de detalhes é a Tonica, e o respeito, aos companheiros que tombaram, sua maior virtude.(...)”
 É até interessante falar deste livro agora, pois o mesmo foi relançado pela Action Editora.


 Não vou aqui me delongar mais sobre o que foi o 1°Grupo de caça, ou sobre sua participação na guerra. Existem milhares de sites, Blogs,... sobre estes assuntos. Vou me ater ao livro em si.
 Para quem iniciar a leitura, percebe logo que os primeiros capítulos são de um cunho militar bem específico. Para quem não esta acostumado, pode chegar a desanimar. Vai uma dica, comece a ler pelo capitulo V, depois de um tempo, já familiarizado com o estilo do livro, alguns termos, volte e leia os primeiros capítulos.
 Um ponto que acho interessante no livro, é que, da forma em que foi editado, parece vários livros dentro de um só. Isto se deve ao fato de Rui M. Lima fazer de cada capítulo, um livrinho a parte, sobre cada membro do 1° Grupo de caça. E ele o faz de forma tão calorosa, que chega a monopolizar a atenção.
 Alguns destaques que gostaria de fazer:
 - Ao longo dos relatos de vida dos pilotos que foram abatidos e conseguiram voltar as linhas amigas, ficamos conhecendo um pouco do comportamento dos Partisans. A resistência Italiana. Conhece-se um pouco de seus métodos de operação, sua estrutura e todo o lado humano que aflora em situações no qual o homem é colocado de frente a situações de vida ou morte.
 Os relatos dos pilotos feitos prisioneiros pelos alemães, nos fornece um cenário incrível sobre os campos de prisioneiros, suas interações, seus sonhos e esperanças. Em confronto a situação de reclusão junto a outras culturas, porem com objetivos iguais.
 Para quem estuda a História da Segunda Guerra, é um livro obrigatório. Estudantes de história em geral, necessário.
 Falar em História, permita-me narrar uma situação bem inusitada ocorrida com este que hora escreve e no qual este livro teve uma certa participação.
 Era 1994, eu estava no 2° ano do 2° Grau. Já havia lido este livro umas 2 ou 3 vezes.
 O Prof° de história do Brasil estava lecionando sobre a era Vargas e a Segunda Guerra. De repente ele começou a falar da “vergonha” que o Brasil passou na Guerra, mal preparados, mal equipados. Que os aviões não passavam de velhos teco-tecos... Nesta hora eu não me contive e explodi. Afinal de contas eu lia sobre o conflito desde meus 8 anos. Sabia identificar qualquer aeronave e conhecia muito do P-47. Eu lembro que despejei tudo em cima dele. Na hora ele apontou o dedo para mim e disse que minha opinião não havia sido pedida. Eu então respondi que não era minha opinião, mas sim fatos históricos. E que opinião era o que ele havia dito e por sinal totalmente errada. Foi a gota d’água, fui expulso da sala.
 No ano seguinte, já no 3° ano, o outro professor, de história Geral, me convidou a dar uma aula sobre a Segunda Guerra para o Pré-vestibular. Assim é vida.

  Continuando... Para quem curte aviação não deve faltar na prateleira. 

 O Bial que me desculpe, mas os pilotos do 1° Gavca sim, foram os verdadeiros herois. 

 Boa leitura e até a próxima.

 Para saber mais, recomendo os seguintes livros:
L.F. Perdigão, "Missão de Guerra", Biblioteca do Exército-Editora, Rio de Janeiro, 1958.
C. Lorch, "A Caça Brasileira - nascida em combate", Action Editora, Rio de Janeiro, 1993.

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