Sabe aquele livro que você comprou a
um tempo atrás, começou a ler, mas "empacou" e desistiu de ler? Bem, quem costuma
comprar livros sistematicamente com certeza deve ter uns 2 ou 3 destes parados
na estante.
Entre os anos 1992 e 1995, foi o período em que
eu mais comprei livros. Meu Pai me levava nos sebos do Centro do Rio de
Janeiro, onde costumava trocar os livros que meus pais recebiam das editoras,
por outros livros. Costumava também vender e usar o dinheiro para comprar
livros onde não podia trocá-los.
Alias, esqueci de mencionar, meus pais são
professores, então todo ano eles recebiam uma enxurrada de livros das editoras.
Depois que entrei para a faculdade de
Engenharia tive que dar uma parada e me dedicar aos estudos. Gradativamente fui
arrumando meus livros de modo a abrir espaço para as apostilas e livros de
engenharia. E me deparei com uns 5 livros que estavam “empacados”. Lembro-me que dois destes eu descartei e já
coloquei no bolo de “futuras trocas”. Os outros 3 eram “interessantes” e mereciam
uma atenção especial. Decidi que só compraria outros livros quando terminasse
de ler aqueles. Afinal não seria justo deixar aqueles livros ali, sem serem
totalmente lidos. Precisava entender porque não havia terminado de ler e
superar estes motivos. Veio então a grande surpresa. O livro era muito melhor
do que lembrará.
TITULO: NAPOLEÃO. O retrato do
Homem.
AUTOR: Gastón Bonheur
TRADUTOR: Cel. Job Lorena de
Sant’Anna
TITULO ORIGINAL: Qui êtes-vous,
Napoléon?
EDITORA: Bibliex
138 Paginas.
Um pouco sobre o autor: Gastón Bonheur, nascido 27 de novembro de 1913
em Belvianes (Aude), morreu em 04 setembro 1980 em Montpellier (Hérault), foi
um jornalista e um escritor francês.
Antes disto foi um poeta. Fundou a revista
Choc surrealista.
Após sua breve estada em meio aos
poetas, ele então se dirige para o jornalismo. Ele foi contratado por Pierre
Lazareff como repórter em um jornal o
Paris-Soir .
. Em 1947 , ele foi editor do
semanário
Paris Match .
A atenção para este livro se
inicia aos detalhes. Totalmente impresso em Papel couché. Merecia uma capa
dura, porém o trabalho gráfico em capa de papel cartão não fica muito ruim. O
livro é ricamente ilustrado com reproduções de pinturas da época,
detalhadamente explicadas ao fim do livro, nas referencias Iconográficas. Neste
momento alguém pode se perguntar, então porque, diante de tantos elogios ao
livro, empacou na primeira vez que leu?
O livro tem uma característica de impressão
que eu não gosto muito, duas colunas por folha. Quando o livro é impresso em
formato grande, onde cada página tem quase o tamanho de uma folha de A4, duas
colunas por folha não é problema. Porem em livros como este, onde a página não
tem mais que 13cm, cada coluna fica com uns 5cm. São menos de 6 palavras por
linha. Torna a leitura cansativa.
E um, digamos, pré-requisito para ler este
livro, é conhecer o fato histórico chamado “Revolução Francesa”. Assistir o
filme Dantom, O processo da revolução, com Gérard Depardieu,
também pode ajudar a “desempacar” em alguns momentos. Claro que as notas de pé
de página ajudam, porem as mesmas faltam em alguns momentos.
Quanto a narrativa de Gastón Bonheur, ela tem um ritmo de
documentário, não como os exibidos na Discovery, ou History. Mas como os
exibidos pela TV Escola. Quem acompanhou a série de documentários sobre os
Césares, saberá a que estilo estou me referindo.
Livros sobre Napoleão, existem mais de
quatrocentos mil. Autores dos mais variados exploram suas Batalhas, suas
brilhantes estratégias, seus erros e principalmente sobre A Batalha de Waterloo. Mas a proposta de Gastón Bonheur é mostrar os
hábitos caseiros de Napoleão, costumes pessoais, nas simplicidades de seus
gostos, suas paixões... Em fim, mostrar que Napoleão foi um homem como outros
de seu tempo.
Nas palavras de Austregésilo de Athayde,
Presidente da Academia Brasileira de Letras:
“ Nenhuma outra das valorosas personagens da
história do mundo foi o artífice de sua própria vida nas dimensões em que Napoleão a
concebeu e realizou. Por isso não será esquecido e à medida que o tempo o
distancia, a história da sua existência sai da laboriosa esfera dos
pesquisadores realistas para o plano da poesia, tamanho é o fantástico da sorte
desse homem, de quem o Visconde de Chateaubriand, que o adulou e combateu,
disse ter sido a maior força que jamais se uniu à argila humana.”
Para
quem gosta da psicologia, fica muito fácil, com a leitura deste livro,
entender, pelo homem, as ações do mito Napoleão.
O livro também nos proporciona um belo retrato
da época, como neste trecho:
“Os quatro viajantes desembarcaram do patacho
do sul em meados de 1795. Encontraram uma Paris escandalosa, frívola, devassa,
de “maravilhosas” e “incríveis”, embelezada com as castanheiras em flor. (...)”
“(...) Paris, brutalmente curada dos males do terror,
agora o amor esta na ordem do dia. O verão permite todas as audácias. As
“maravilhosas” estão praticamente nuas sob as túnicas de musselina, à antiga.
São chamadas as “sem-camisas”.
Faz-nos entender melhor aquela época e como
Paris se tornou o “centro do mundo”, ditando a moda para o resto dele.
Gastón Bonheur consegue humanizar a cena
imortal da coroação. Arrancando toda a lenda, apagando todas as luzes,
simplesmente humanizando o ato:
“(...)Todos os olhares
estão dirigidos para a coroa, para o poder, exceto o de um capuchinho barbudo e
o do Papa que se dirigem para a pecadora de pálpebras baixas. (...). Agora,
depois de coroá-la Imperatriz, ele próprio se coroa, num gesto que teria sido
grande, se não tivesse os braços tão curtos e os ombros tolhidos por um manto
de veludo vermelho e de arminho, adornado com abelhas de ouro.(...)”
Quando eu leio a história de vultos do naipe
de Napoleão é, para mim, impossível não surpreende-se com os acasos do destino
que o conduzem à no fim ser quem a história o eternizou. Eu gosto muito de
estudar estas “interações” e a forma como o universo parece conspirar para um
determinado fim. Este livro fornece bastante material para este tipo de
reflexão.
“ Jamais, jamais mortal subiu tão
alto!
Ele foi o primeiro sobre a terra,
Só, ele brilha sobranceiro a tudo,
Como sobre a coluna de Vedôme
Sua estatua de bronze ao céu se
eleva;
Acima dele, Deus, - Deus
tão-somente;
Da liberdade foi o mensageiro;
Sua espada, cometa dos tiranos,
Foi o sol que guiou a humanidade.
Nós, um bem lhe devemos, que
gozamos;
E a geração futura, agradecida,
Napoleão dirá, cheia de assombro.”
Domingos de Magalhães
Professores e amantes da História, este é um
livro obrigatório.
Aqueles que estudam a Revolução Francesa,
necessário.
Aqueles leitores casuais que querem entender
Napoleão, apenas recomendo, se obedecerem aos Pré requisitos.
Para saber mais:
FILME: Danton -
O Processo da Revolução
FILME:
NAPOLEON BONAPARTE.
FILME:
O CONDE DE MONTE CRISTO.
Livro
- A Batalha de Waterloo - A Última Jogada de Napoleão - Coleção Fazendo
História
Autor: Roberts, Andrew
Editora: Ediouro RJ
Ótima
leitura.
Olá, Sérgio,
ResponderExcluirParabéns pelo Blog. E pelo conteúdo. Também sou apaixonado por livros e sempre estou lendo, quase como uma espécie de alimento, que não posso dispensar. Por isso, valorizo iniciativas como a sua, com indicações preciosas de boa literatura.Vá em frente!
Saudações e
Muita Paz!
Francisco de Assis Daher Pirola
Obrigado Francisco. Espero que esta nova geração, tão voltada ao “virtual”, possa ter o gosto de uma boa leitura. Leitura com conteúdo.
ExcluirForte abraço.