domingo, 13 de maio de 2012

Separando o Homem do Mito.


Sabe aquele livro que você comprou a um tempo atrás, começou a ler, mas "empacou" e desistiu de ler? Bem, quem costuma comprar livros sistematicamente com certeza deve ter uns 2 ou 3 destes parados na estante.
 Entre os anos 1992 e 1995, foi o período em que eu mais comprei livros. Meu Pai me levava nos sebos do Centro do Rio de Janeiro, onde costumava trocar os livros que meus pais recebiam das editoras, por outros livros. Costumava também vender e usar o dinheiro para comprar livros onde não podia trocá-los.
 Alias, esqueci de mencionar, meus pais são professores, então todo ano eles recebiam uma enxurrada de livros das editoras.
 Depois que entrei para a faculdade de Engenharia tive que dar uma parada e me dedicar aos estudos. Gradativamente fui arrumando meus livros de modo a abrir espaço para as apostilas e livros de engenharia. E me deparei com uns 5 livros que estavam “empacados”.   Lembro-me que dois destes eu descartei e já coloquei no bolo de “futuras trocas”. Os outros 3 eram “interessantes” e mereciam uma atenção especial. Decidi que só compraria outros livros quando terminasse de ler aqueles. Afinal não seria justo deixar aqueles livros ali, sem serem totalmente lidos. Precisava entender porque não havia terminado de ler e superar estes motivos. Veio então a grande surpresa. O livro era muito melhor do que lembrará.



TITULO: NAPOLEÃO. O retrato do Homem.
AUTOR: Gastón Bonheur
TRADUTOR: Cel. Job Lorena de Sant’Anna
TITULO ORIGINAL: Qui êtes-vous, Napoléon?
EDITORA: Bibliex
138 Paginas.

Um pouco sobre o autor: Gastón Bonheur, nascido 27 de novembro de 1913 em Belvianes (Aude), morreu em 04 setembro 1980 em Montpellier (Hérault), foi um jornalista e um escritor francês.
Antes disto foi um poeta. Fundou a revista Choc surrealista.
 Após sua breve estada em meio aos poetas, ele então se dirige para o jornalismo. Ele foi contratado por Pierre Lazareff como repórter em um jornal o Paris-Soir .
. Em 1947 , ele foi editor do semanário Paris Match .

 A atenção para este livro se inicia aos detalhes. Totalmente impresso em Papel couché. Merecia uma capa dura, porém o trabalho gráfico em capa de papel cartão não fica muito ruim. O livro é ricamente ilustrado com reproduções de pinturas da época, detalhadamente explicadas ao fim do livro, nas referencias Iconográficas. Neste momento alguém pode se perguntar, então porque, diante de tantos elogios ao livro, empacou na primeira vez que leu?

 O livro tem uma característica de impressão que eu não gosto muito, duas colunas por folha. Quando o livro é impresso em formato grande, onde cada página tem quase o tamanho de uma folha de A4, duas colunas por folha não é problema. Porem em livros como este, onde a página não tem mais que 13cm, cada coluna fica com uns 5cm. São menos de 6 palavras por linha. Torna a leitura cansativa.

 E um, digamos, pré-requisito para ler este livro, é conhecer o fato histórico chamado “Revolução Francesa”. Assistir o filme Dantom, O processo da revolução, com Gérard Depardieu, também pode ajudar a “desempacar” em alguns momentos. Claro que as notas de pé de página ajudam, porem as mesmas faltam em alguns momentos.

 Quanto a narrativa de Gastón Bonheur, ela tem um ritmo de documentário, não como os exibidos na Discovery, ou History. Mas como os exibidos pela TV Escola. Quem acompanhou a série de documentários sobre os Césares, saberá a que estilo estou me referindo.

 Livros sobre Napoleão, existem mais de quatrocentos mil. Autores dos mais variados exploram suas Batalhas, suas brilhantes estratégias, seus erros e principalmente sobre A Batalha de Waterloo. Mas a proposta de Gastón Bonheur é mostrar os hábitos caseiros de Napoleão, costumes pessoais, nas simplicidades de seus gostos, suas paixões... Em fim, mostrar que Napoleão foi um homem como outros de seu tempo.

 Nas palavras de Austregésilo de Athayde, Presidente da Academia Brasileira de Letras:

 “ Nenhuma outra das valorosas personagens da história do mundo foi o artífice de sua própria vida nas dimensões em que Napoleão a concebeu e realizou. Por isso não será esquecido e à medida que o tempo o distancia, a história da sua existência sai da laboriosa esfera dos pesquisadores realistas para o plano da poesia, tamanho é o fantástico da sorte desse homem, de quem o Visconde de Chateaubriand, que o adulou e combateu, disse ter sido a maior força que jamais se uniu à argila humana.”

  Para quem gosta da psicologia, fica muito fácil, com a leitura deste livro, entender, pelo homem, as ações do mito Napoleão.

 O livro também nos proporciona um belo retrato da época, como neste trecho:

 “Os quatro viajantes desembarcaram do patacho do sul em meados de 1795. Encontraram uma Paris escandalosa, frívola, devassa, de “maravilhosas” e “incríveis”, embelezada com as castanheiras em flor. (...)”

“(...)  Paris, brutalmente curada dos males do terror, agora o amor esta na ordem do dia. O verão permite todas as audácias. As “maravilhosas” estão praticamente nuas sob as túnicas de musselina, à antiga. São chamadas as “sem-camisas”.

 Faz-nos entender melhor aquela época e como Paris se tornou o “centro do mundo”, ditando a moda para o resto dele.

 Gastón Bonheur consegue humanizar a cena imortal da coroação. Arrancando toda a lenda, apagando todas as luzes, simplesmente humanizando o ato:

“(...)Todos os olhares estão dirigidos para a coroa, para o poder, exceto o de um capuchinho barbudo e o do Papa que se dirigem para a pecadora de pálpebras baixas. (...). Agora, depois de coroá-la Imperatriz, ele próprio se coroa, num gesto que teria sido grande, se não tivesse os braços tão curtos e os ombros tolhidos por um manto de veludo vermelho e de arminho, adornado com abelhas de ouro.(...)”

 Quando eu leio a história de vultos do naipe de Napoleão é, para mim, impossível não surpreende-se com os acasos do destino que o conduzem à no fim ser quem a história o eternizou. Eu gosto muito de estudar estas “interações” e a forma como o universo parece conspirar para um determinado fim. Este livro fornece bastante material para este tipo de reflexão.

“ Jamais, jamais mortal subiu tão alto!

Ele foi o primeiro sobre a terra,

Só, ele brilha sobranceiro a tudo,

Como sobre a coluna de Vedôme

Sua estatua de bronze ao céu se eleva;

Acima dele, Deus, - Deus tão-somente;

Da liberdade foi o mensageiro;

Sua espada, cometa dos tiranos,

Foi o sol que guiou a humanidade.

Nós, um bem lhe devemos, que gozamos;

E a geração futura, agradecida,

Napoleão dirá, cheia de assombro.”

Domingos de Magalhães

 

 

 Professores e amantes da História, este é um livro obrigatório.

 Aqueles que estudam a Revolução Francesa, necessário.

 Aqueles leitores casuais que querem entender Napoleão, apenas recomendo, se obedecerem aos Pré requisitos.

 

Para saber mais:

 FILME: Danton - O Processo da Revolução

FILME: NAPOLEON BONAPARTE.

FILME: O CONDE DE MONTE CRISTO.

Livro - A Batalha de Waterloo - A Última Jogada de Napoleão - Coleção Fazendo História
 Autor: Roberts, Andrew
 Editora: Ediouro RJ

  Ótima leitura.


2 comentários:

  1. Olá, Sérgio,

    Parabéns pelo Blog. E pelo conteúdo. Também sou apaixonado por livros e sempre estou lendo, quase como uma espécie de alimento, que não posso dispensar. Por isso, valorizo iniciativas como a sua, com indicações preciosas de boa literatura.Vá em frente!

    Saudações e

    Muita Paz!

    Francisco de Assis Daher Pirola

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    Respostas
    1. Obrigado Francisco. Espero que esta nova geração, tão voltada ao “virtual”, possa ter o gosto de uma boa leitura. Leitura com conteúdo.
      Forte abraço.

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